Lição de amor por House e Cuddy

“Insiste, sim. Um amor impossível pode ser amanhã.” Ângela Melim

Uma de minhas paixões são os seriados norte americanos. Em geral nada  na TV me prende a atenção, mas eu amo seguir um seriado, especialmente os de drama e investigação.  House MD [Dr. House, no Brasil] é um de meus favoritos, as histórias são muito bem conduzidas, os episódios impecáveis, o drama na medida certa, e a série já passa há seis anos, mantendo uma qualidade inigualável.

Semana passada, ao assistir o episódio final da sexta temporada da série, me surpreendi. Perdi alguns episódios, não sabia o que esperar, só sabia que seria difícil fazer algo mais incrível do que já fizeram no final da quarta e da quinta temporada da série. Mas me peguei emocionadíssima com o drama médico da semana, e especialmente com lindíssima a lição de amor dos personagens principais da série.

Para atualizar rapidamente quem não assiste ao seriado, House e sua chefe se conhecem há mais de 20 anos, tiveram um “namorico” na faculdade, e nunca mais ficaram juntos. No início do seriado, a impressão que se tem é que eles se odiavam… House a provocava e questionava sua autoridade fazendo comentários machistas e indecentes sobre sua vestimenta e sobre o corpo em forma da chefe. E ela, poderosíssima,  não deixava barato: o obrigava a fazer tarefas que odiava, gritava com ele no mesmo tom.  No primeiro episódio, o melhor amigo de House lhe diz que tanta hostilidade devia esconder alguma atração, e House lhe replica que a fronteira entre o amor e o ódio não era sutil, e sim um abismo…

Olhando de longe, pensaríamos que eram inimigos, mas observando um pouco mais, entendemos que essa hostilidade era apenas uma maneira estranha que construíram para se relacionarem após tanto tempo de convivênvia. Curiosamente percebe-se que havia entre eles um respeito enorme e um cuidado velado um pelo outro.

Desde o início da série, tudo que dizia respeito à Cuddy atiçava a curiosade de House, e por sua vez, vimos anos e anos à fio, Cuddy o protegendo [ela inventou o departamento de medicina diagnóstica exclusivamente para ele, que apesar de ser genial, não era tolerado em nenhum emprego] , e salvando-o das situações mais difíceis. Porque se eu não contei pra vocês, segundo o próprio Dr., ele é a pessoa mais ferrada do mundo!

Temos que concordar que apesar de fascinante, dono de um sarcasmo e inteligência invejável, House é uma pessoa dificílima: não se importa com os sentimentos dos outros, trapaceia quando sabe que está certo, tende a viciar-se em drogas e uma lista enorme de situações e características que o tornam extremamente complexo. É um profissional seguro e quase sempre acerta, mas seu emocional é de um adolescente.Para mim, a maior lição a se aprender aprender com o relacionamento dos dois, é que o amor nem sempre é fácil ou se manifesta deixando o mundo cor-de rosa. Muitas vezes não se encontra um príncipe gentil, montado em um cavalo branco, ou exclusivamente amamos alguém porque a pessoa é” boazinha” e “perfeitinha” em todos sentidos, do jeitinho que pedimos a  Deus enquanto assistíamos os filmes com príncipes encantados.

O amor da nossa vida,  como todas outras pessoas, tem defeitos e qualidades, e ao invés de mudá-las, nosso papel é conviver com elas, enquanto tentamos melhorar o que podemos em nós mesmos. E talvez, nos melhorando, e oferecendo ao outro nossa afeição desapegada e compreensão, ele desabroche…

Somente uma mulher desprendida e extremamente forte poderia ser o par de House. E era curioso vê-la no início da série série: lindíssima, reitora de um hospital universidade, mulher de negócios, grande médica, e, paradoxalmente solitária. Durante a série e com o passar dos anos, ela viu-se frustrada no sonho de ser mãe, até resolver adotar um bebê, e além de todos problemas que tinha, ainda tomou pra si a tarefa de “limpar a sujeira de House”. Manter um gênio no hospital saía caro… poucos pacientes tratados, poucos resultados e muitos gastos. Mas ela silenciosamente acreditou e manteve o departamento de House no hospital, comprou todas brigas que surgiram para mantê-lo: cometeu perjúrio, foi exposta publicamente, o viu à beira da morte, à beira da loucura.

Durante os seis anos da série, acompanhamos esses dois personagens complexos “dançando um em torno do outro”, cuidando sem dar o braço a torcer, amando sem querer dizer… coisa de gente que já se machucou muito.

E por fim, depois de ser magoada e menosprezada milhares de vezes, por amar alguém tão difícil como House, Cuddy parecia ter desistido… comprou uam casa nova para mudar com seu bebê, arrumou um namorado… mas parecia vazia: tudo que ela sonhava estava acontecendo, porque estava infeliz?

Porque definitivamente não escolhemos quem vamos amar… quem dera fosse assim, não haveria problemas, ninguém ficaria solteiro. A solução seria fácil e simples, casaríamos com o primeiro namorado, já que todo amor é igual.

O  episódio final de temporada de House, culminando tanto tempo de indecisão, incerteza, medo do futuro assombrando os dois personagens, me lembrou que ama-se por um sem número de sensações, sentimentos, emoções que o outro nos causa, sem sabermos o porquê. É por isso, que na aridez do mundo, como eu já disse aqui, o amor é o que resta de mágica em nossas vidas prosaicas… quanto mais se foge dele, mais ele se alastra. Como Camões descreve bem:

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Foi perfeito ver primeiro Cuddy ao contar para House que ficara noiva de outro, racionalizando e lhe dizendo que não o amava, que todos prosseguiam com a vida, menos ele, que ele não tinha nada, e se tornara um nada [o coração apertou vendo a cara de House]. E em um reviravolta impressionante, vemos o orgulhoso, imutável e rígido House, dizer à uma paciente, de coração aberto, que ele se tornara uma pessoal fria, terrível, e que ele tinha ficado como consequência disso solitário, mas que ela devia prosseguir, porque tinha um marido que a amava e uma vida pra viver…

Vendo o episódio a gente pensa: “Nossa!  Ela que o amou por 20 anos, desistiu… nem o amor verdadeiro resiste à tudo”,  e quem pode condená-la por querer tentar? Por procurar alguém mais calmo, que se esforce por fazê-la feliz, para variar… ser cuidada ao invés de correr apagando os incêndios causados pelo homem que ela amou tanto tempo?

É aí que aprendemos que o amor não é fácil, e que não escolhemos quem amamos porque vamos ter tranquilidade… ama-se por amar, e pronto! Encerramos o episódio, vendo House, aquele que não se importa com ninguém, arrasado, assentado no chão do banheiro, com um vidro de remédios na mão, pensando se voltava a se drogar novamente, depois de um ano de luta bem sucedida contra o vício… e nesse momento, Cuddy entra, e vemos House não se importando em se mostrar frágil perante ela: lágrimas nos olhos, expressão exausta, incrédulo… tudo se foi!

Ele pergunta se ela foi tomar os comprimidos das mãos dele, ela diz que não, ele escolhe se vai ou não voltar ao vício. Ele pergunta se ela foi lá gritar com ele de novo, ela diz que não… ele ironicamente se vê sem teorias para entender-lhe a presença.

Então ela diz, o que nem nós, nem House esperava: terminara o noivado… sua vida estava tão parada quanto à de House, não havia como prosseguir sem ele, porque com noivo, com casa nova e todos seus sonhos brilhantes sendo realizados… era só nele que ela pensava.  “Eu te amo, por mais que eu deseje não te amar”… “Preciso saber se nós dois daremos certo”.

Finalmente, o amadurecimento, depois de em um jogo de gato e rato que durava décadas… ela se deu por vencida [e ele também, percebemos pelo sorriso em seus olhos], entendeu que quando se ama, até mesmo os defeitos são bem vindos… uma lição que custamos aprender, e as vezes massacramos nossos companheiros por pequenos detalhes. Ou você ama o pacote completo, ou é melhor nem tentar… mudar o outro é ilusão, e a aceitação – que não é sinônimo de submissão – na maioria das vezes ajuda mais o outro a mudar o que incomoda à você e a ele, do que apontar-lhe os defeitos o tempo todo.

Assistindo House, aprendi que o amor verdadeiro, aquele que te faz mover céus e terra pelo outro, não é fácil… as vezes te faz sofrer e é preciso ser humilde para entender que diferenças não são defeitos e felicidade plena não é sinônimo de ausência de problemas.

25 Respostas to “Lição de amor por House e Cuddy”

  1. Carol Says:

    Lindo post, Cleide!

    Até me animei a ver a sexta temporada de House (desisti dela lá pelo sexto episódio), mas agora vou retomar graças a vc! rs!
    Beijos
    Carol

    • Cleide Sousa Says:

      Carol, eu também fiz isso essa temporada. Me empolguei com Fringe, Bones e larguei Houser pra lá por causa do namoro da Cuddy com PI que já estava me irritando. Eu tinha a Cuddy como um modelo, assim como a Scully, de mulher poderosa que não se submete à vontade alheia só pra se adaptar. Então, ela namorar aquele babaca que sequer ela gostava era tão discrepante da personagem que sempre fez tudo por House, comprava qualquer briga por ele, mesmo sabendo que ele era difícil… ainda bem que os roteiristas souberam dar essa volta e ser coerentes no final…

  2. Tatiana Souza Says:

    Me senti super contemplada lendo este post. Nos meus quase 10 anos de namoro fui “obrigada” a aprender muito do que você colocou aqui. Depois de várias discussões e brigas vi que não adianta tentar mudar o outro. Ninguém tem esse poder (infelizmente ou felizmente?). Muitas vezes não conseguimos mudar nem a nós mesmos, quanto mais a uma outra pessoa! Não digo que os defeitos não me incomodam mais, mas depois de tanto tempo pelo menos consigo lidar com eles de forma mais compreensiva, mais harmoniosa. E isso não significa simples aceitação, submissão. Acho que agora consigo enxergar melhor o “humano” presente no outro. Não existe “par perfeito” e se este existisse seria tão chato viver ao seu lado que a vida se tornaria insuportável em sua eterna monotonia! Obrigada por dividir conosco suas reflexões e inquietações!

    • Cleide Sousa Says:

      Pois é Tati, muito sensata a sua posição… o importante é viver e aprender com a experiência. Enquanto alguns relacionamentos desgastam com o tempo, há os que amadurecem, se apuram, ficam melhores… você encontrou o seu caminho…

  3. Página não encontrada « Colcha de Retalhos Says:

    […] Populares Vestidos de sonho…Um Edward Cullen pra chamar de seu…Dissecando a Inveja – Parte ILição de amor por House e CuddyGuns n' Roses e meus tempos de adolescente…Flores…Venus MineiraRazões para Amar Paris, parte II […]

  4. Casais Favoritos – Parte I – TV « Colcha de Retalhos Says:

    […] Favoritos … on Meus casais favoritos… M…Página não encontrad… on Lição de amor por House e…Carol on Canções para o seu amor…Cleide Sousa on Canções para o […]

  5. paula Says:

    PERFEEEEEEEEEEEEEEEEEEITO! TO CHORANDO LITROS AQUI!
    ELES SÃO LINDOS! HOUSE É DEMAIS ! LINDO LINDO LINDO LINDO

    • Cleide Sousa Says:

      Paula,
      Também sou apaixonada pelos dois… essas relações complexas são tão interessantes, com tantos elementos. A riqueza de detalhes dos personagens é que os torna tão humanos e próximos de nós!
      Volte sempre!

  6. Mary Says:

    Que liiiindo!Eu tambem amo esses dois,eles merecem mesmo ficarem juntos,é um dos meus casais favoritos,e vc Cleide escreve muito bem adorei seu post !

  7. Mirian Soares Says:

    Assim o resumo da história dos mais perfeito que já vi! Amo o House e Cuddy e torcia muito pra eles ficarem juntos!!

    • Cleide Sousa Says:

      Mirian, que bom que você gostou… eu tive medo de pecar pela falta, fazendo esse resumo… mas a história era muito grande para contar com detalhes… só assistindo mesmo para sentir todas as emoções!

  8. Glória Corrêa Says:

    Ahasou totalmente com esse post, o romance do House e da Cuddy é a coisa mais fofa.. ela sempre esteve ao lado dele em absolutamente todos os momentos , nos momentos mais dificeis ela sempre esteve lá. Sempre torci muito pelos dois, pois eles realmente nos mostram que o amor nem sempre é um conto de fadas e é isso que faz com que se tenha cada vez mais certeza se é vedadeiro, quem ama de verdade está junto não só nos bons momentos, mas tbm nos mais difíceis. Amoooo essa série, amoooo esse casal… bjuhs! *_*

  9. ANGELA Says:

    OXA VOCE LER O S MEUS PENSAMENTOS,ASSIM PENSO EU ……………ADOREI TE LER….FOI PRAZEROSA SABER COMO SE COMPORTA UMA CABEÇA QUE PENSA E UM CORAÇÃO QUE SENTE.CHAMA SE COMPARTILHAR EXPERIENCIAS A TODOS.

  10. palomaraquel Says:

    ta brincando house e cuddy forão feitos um p/ outro

  11. Lizy Cipriano Says:

    É sempre bom ver alguém comentando seu casal favorito, eu como Huddy me orgulho desses dois, às vezes. Finalmente, House agarrou a chance número 833. É por essas e outras que amo esses dois.
    HUDDY FOREVER!!!

  12. Juliana Says:

    que lindoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo , amooo a série 😀

  13. Lu Says:

    Depois de anos resolvi assistir e me apaixonei pela série. Em menos de dois meses já estou nos primeiros episódios da 6a. temporada.

    Você traduziu de uma forma tão linda o amor de House e Cuddy … chorei! Mais que isso, uma perfeita reflexão sobre a aceitação do outro como ele é. Como diz House: “nobody changes”.

    Amei seu texto … parabéns!

    • Cleide Sousa Says:

      Muito obrigada pela visita, Lu, fico feliz de vc ter gostado do texto.
      Acredita que este foi o último episódio que vi de House, não assisti a temporada em que ele efetivamente namora a Cuddy… vamos ver se animo retomar…
      Abraço!

      • Lu Says:

        Que pena que vc parou! Ja acabei de assistir a serie toda e ficou um gostinho de “quero mais”. Infelizmente, para Hugh Laurie, nao foi facil viver nos Eua com a familia na Inglaterra. Por isso, esta descartada uma continuacao. Mas poderiam ao menos fazer “House – O Filme” (rsrs). Mas se valer meu conselho, assista. As temporadas 7 e 8 valem muito a pena.
        Abracos!

      • Cleide Sousa Says:

        Vou levar seu conselho em consideração sim, Lu… acho Hugh Laurie sensacional ator, além de um verdadeiro gentleman!


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