Segundo a tradição do yoga, é necessário domar os instinto de sobrevivência, para conquistar um vivência mais espiritual, e isso se dá através da disciplina.
O Yoga clássico, codificado por Patânjali, descreve tal disciplina em oito passos… yamas, niyamas, âssanas, prânayama, pratyâhara, Dhârana, Samâdhi.
Estive refletindo sobre os YAMAS, que são princípios que regem o comportamento de quem pretende ser um yoguin realmente. Para filosofia do yoga, não basta fazer ásana (postura), pois mais que uma “ginástica” o yoga tem que ser uma filosofia de vida que permeia toda vivência do praticante.
Para mim, os preceitos simples e bem explicados, estão presentes em toda filosofia humana que deseja o bem e a paz… e certamente se praticados por todos, construiria um mundo bem mais harmônico.
Os yamas são cinco: Ahimsa, Satya, Asteya, Brahmacharya e Aparigaha.
AHIMSA – Não violência
“Quando o yoguim se firma na virtude da não violência, toda discórdia se acaba na sua presença” (YS 2.35)
Descrita por Patânjali através do aforismo citado, a ahimsa é a mais importante das disciplinas. É a medida que nos mostra se estamos fazendo o bem: estou violentando o outro com minhas atitudes ou falas? Estou violentando a mim mesmo com meu estilo de vida? Não se resume apenas a não machucar o outro fisicamente, mas em ser suave na convivência com o próximo, a não violência deve se estender a todos atos, deve ser um crivo que filtra nossas ações, palavras e pensamentos. De início não é fácil, mas quando se tem em mente esse propósito, através do exercício aos poucos ele vai fortalecendo em nossas atitudes.
SATYA – Verdade
“Quando se firma na veracidade, a ação e sua fruinão passam a depender da sua vontade” (YS 2:36)
A maioria dos problemas com os quais lidamos no dia à dia, se relaciona com a inveracidade – inúmeras complicações, mal entendidos e aborrecimentos nos acometem quando não somos verdadeiros.
Quando nos propomos falar apenas do que sabemos, não iludir e mentir para os outros, nossa aura mental muda, e estamos agindo em nome do amor ao próximo. Dizer a verdade é um ato de ahimsa.
Mas é importante observarmos, que a verdade pede sabedoria… não a confundamos com uma franqueza desenfreada que se alegra em “jogar na cara do outro” o que achamos dele… a nossa verdade é relativa, e não conhecemos tão bem o universo interior do outro para julgá-lo. Se dizer a verdade pode ser uma violência em algum aspecto, devemos nos abster e praticar ahimsa. A verdade deve servir ao amor.
ASTEYA – Não Roubar
“Quando se firma no não roubar, todos os tesouros surgem a frente”. (Y.S.2.37)
Vocês já imaginaram um mundo onde cada um pudesse conquistar seus bens legitimamente sem ter que temer qualquer usurpação por parte de seu irmão? Essa é a proposta de asteya, não se apoderar de algo que não lhe pertence, nem mesmo uma idéia, uma inspiração… e lutar para conquistar honestamente o que pode ser seu. Em suma é um desdobramento de ahimsa, pois firma-se na ética de que para vivermos em paz, devemos respeitar a propriedade material, intelectual e emocional alheia. Se isso fosse osbervado, imaginem a harmonia que alcançaríamos? Ninguém cobiçaria os bens, as idéias, os amores dos outros… um mundo com menos ciúmes, inveja e competição.
BRAHMACHARIA – Castidade
“Quando se firma na castidade, adquire-se grande vitalidade.” (Y.S. 2. 38)
Deve parecer caretíssimo falar de castidade em pleno século XXI, mas eu não vejo assunto mais atual a se tratar… porque o que me parece é que nossa idéia ocidental de castidade que foi deturpada, confundida com “celibato”. Castidade para o yoguin não diz respeito à negação da vida sexual, ou castração… muito pelo contrário, a troca de energias sexuais é imprescindível para a vitalidade e para saúde emocional e psíquica dos indivíduos. Brahmacharia convida-nos a respeitar nosso próprio corpo, afastando-nos da promiscuidade, que é tão nociva quando a idéia de que sexo é pecado. A palavra traduzida no “pé da letra”, seria mais ou menos “amor ao Senhor”, nos lembrando que a energia sexual e criativa que encerramos, é a mesma energia que cria mundos e sustenta a vida…
APARIGRAHA – Não Cobiçar
“Quando se firma no não cobiçar, o yoguim obtém o conhecimento de onde se verificam os seus nascimentos.” (YS. 2.39)
A disciplina do não cobiçar, nos treina para o desapego, um dos hábitos arraigados que mais nos fazem sofrer. Não cobiçar o que não é nosso, nos convida a estilos de vida mais simples, e a uma consciência maior que tudo passa. Não é a condenação da posse, claro que não! Mas de ter as coisas sem ser possuído por elas. Nossas conquistas devem servir para nosso conforto, alegria e bem estrar, e não para nossa escravidão. E também nos convida a não competir com o próximo e sim buscarmos ser a cada dia melhores do que fomos ontem.
O convite do yoga, para transformar o olhar sobre o mundo e viver uma vida em harmonia, se baseia nesses pilares, assim com as falas dos grandes homens e mulheres que ensinaram a humanidade. Se todos se dedicassem, mesmo que alguns minutos para refletir sobre isso, para pensar nos móveis de nossas ações, veríamos que pequenas mudanças, fariam verdadeiros milagres…
Já pensaram nisso?
* Todos desenhos desse post são de minha autoria.